quarta-feira, 2 de março de 2011

JACU .. Eu? Tu? Nós?


            Olá,
            Recomeço a escrever motivada pela escuta pela segunda vez de um termo pejorativo que não me define, muito menos os meus amigos do 2º período do curso de Gastronomia: JACU.
            Vamos entender este termo em sua especificidade?

JACU: Classificação morfossintática:
Substantivo masculino singular.
Sinônimos: boboarigóbabaquarabrocoió,  caiçara, casca-grossa, 
guasca,  
jeca-tatumandioqueiromocorongo, pé duro,  roceirorudesaquarema
sertanejotabaréutosco  e xucro.

Antônimo: esperto.

                Palavras relacionadas: caipiraignoranteiletradoburro.

Substantivo masculino.
     1. Ave galiforme da família dos cracídeos, gênero  Penelope ochrogaster, arborícola, que possui garganta nua com   barbela (dobra de pele na parte inferior do pescoço) vivamente colorida, especialmente nos machos   durante o período reprodutivo; alimentam-se de frutas,   folhas e brotos.
  2. Derivação por extensão de sentido: por causa   da sua   aparência desajeitada e seu comportamento que parece desnorteado, o nome da ave passou a designar pessoa desajeitada, feia, acanhada; é também sinônimo de caipira, jeca.
Etimologia: Do tupi ya`ku, ave galiforme da família dos cracídeos, o que come grãos.


               
                Estou pensando como começar a escrever este texto. Acredito que a melhor maneira será descrever o fenômeno, assim, você, caríssimo leitor, poderá compreender meu impacto e de alguns amigos ao escutarmos pela segunda vez que somos JACUS.
                A alusão ao termo refere-se a observação do professor acerca de alguns alunos que ao apresentarem o estudo de um texto, encostaram no ‘quadro negro’ para se sentirem um pouco mais seguros ou menos ameaçados;  ou por sua timidez, reservaram-se ao direito de serem expostos sem nada dizer e ainda, por não terem a habilidade de expressar-se em público, não apresentaram  a desenvoltura ou domínio de apresentação e oratória.
                O professor sugere a todos que façamos workshops gratuitos oferecido por nossa instituição de ensino com os temas: "Vencendo o medo de falar em público' e Técnicas de apresentação de trabalhos'.
                Eu e meu grupo estávamos prontos para apresentarmos nossas conclusões acerca do texto estudado, quando minha amiga fixamente olhando para mim, com uma expressão de insatisfação, me diz algo sobre não aceitar o termo JACU como referência a nossas particulares características. Solicito então ao professor que não nos chame dessa maneira.
                Ratifiquei a importância do mesmo nos considerar alunos em formação, pessoas em processo contínuo de desenvolvimento, pessoas tímidas, introspectivas e sem o desenvolvimento de algumas habilidades, como a facilidade em expressar-se em público, mas JACU, não! Não somos JACUS.
                Ele então pede a palavra e educadamente começa a nos contar a etimologia da palavra jacu. Conta a história de uma espécie de macaco que faz cocô, que é comido por uma ave de nome JACU, que come café e faz cocô. De suas fezes são retirados os grãos que ele comeu e por serem de extrema qualidade, tornam-se um caríssimo café, com alto preço no mercado. Sinto-me confusa e com um remexer no meu intestino, quanto mais ele falava, mais eu considerava que ele estava piorando a situação. O que exatamente éramos? Macaco? (Que macaco é esse nessa história?) Cocô? Jacu? Grão de café do pé ou grão de café defecado?
                Fiquei absorta na história e cada vez que ele alongava a explicação do termo pejorativo aludido a nós eu me perguntava:  O que somos agora? Passarinho, macaco, cocô, café raro? O que ele quis dizer exatamente com essa metáfora? Entre quase risos e surpresa, ficamos aguardando o fim da história. Eu digo a ele que o senso comum nos diz que JACU não era nada daquilo que ele estava dizendo, para todos nós, jacu é um indivíduo MANÉ, LIMITADO, BURRO, IGNORANTE, LESADO, IGNORANTE, BOCOIÓ.
                Ele educadamente diz em uma linguagem subliminar que somos ignorantes porque não conhecíamos a história do jacu que faz cocô e de suas fezes surgem os melhores grãos de café que chega a custar U$ 800,00 no exterior. Pesquisei e descobri que  no Espírito Santo, onde é produzido, sai por uma bagatela de R$ 272,00 o quilo.  Antes ele havia nos dito que por não sabermos técnicas de apresentação de trabalho somos jacu... Então somos  manés antes por não sabermos, durante  também por não  sabermos e depois de sua história, ainda não sabemos...  Hein???
               Questiono: Se o cocô do jacu é supra-sumo do café de extrema qualidade, porque ele iria nos convidar a fazer um curso de técnicas para apresentar trabalho em sala de aula e de oratória? Se já somos considerados o café especial, não precisamos de polimento. Concorda?  Ele quis consertar, mas não conseguiu. Nos subestimou.               
               Outra pergunta:  Se estamos enganados em entender que o que ele quis dizer com o termo JACU não é uma pessoa acanhada, ignorante, iletrada e bocó, pra que nos mandar fazer um curso de COMO FALAR EM PÚBLICO?
                Quero lembrar que ele ainda não nos conhece. Apenas uma faceta de nós ele reconhece quando nos solicita apresentar a compreensão de um texto. Somos jovens e adultos, alguns pais, mães, filhos zelosos e carinhosos, amigos afetuosos, tios e tias divertidos,  irmãos, parceiros, profissionais liberais, empresários, advogados, psicóloga e profissionais da gastronomia. Apenas alguns mais inibidos, tímidos, sem informação, sem treinamento. Ainda.
                Professor: Pode nos chamar de: Alunos tímidos, pessoas em desenvolvimento, indivíduos introspectivos, que desconhecem técnicas, que ainda não exploraram todo o seu potencial criativo e de capacitação, mas JACU, não.
                Não queremos, não precisamos e não estamos comprometidos com um curso de formação tecnológico superior com um custo caro para sermos designados por JACU... Não moramos na JACULÂNDIA, NÃO COMEMOS GRÃOS DE CAFÉ, NEM COCÔ.
                Talvez alguns façam o workshop porque é uma oportunidade interessante, enriquecedora.  É a oportunização para reconhecermos em nós algumas potencialidades e escondidas habilidades.
                Obrigada pela sugestão. Você é uma aquisição para a instituição muito importante. É capacitado, tem experiência, domina o conteúdo de sua disciplina e tem conhecimentos gerais. Contudo, o termo usado para nos expressar foi inadequado. Sua observação sobre nós é corretíssima. Acredito que deveríamos ter uma disciplina sobre postura, técnicas, recursos, oratória, etc. Mas estamos satisfeitos com a viabilidade do workshop.
                Este é seu papel também enquanto educador, nos orientar, querer o melhor de nós e até acreditar no melhor de nós.
                Desconsidere o termo JACU. Deixe o mesmo para o próprio jacu, que de bobo, ignorante, acanhado, burro, caipira e jeca não tem nada, porque conta a ‘lenda’ (na verdade, estudos do comportamento do jacu) que os grãos do Jacu Bird (marca do Café do Jacu tipo exportação, que é produzido na fazenda Camocim, em Pedra Azul, Domingos Martins, Espírito Santo),  são colhidos das fezes do próprio jacu, que come os melhores frutos do cafeeiro, aqueles sem defeito e completamente maduros. Viu? Nem o Jacu é um jacu...
                                   Portanto, o termo não nos representa nem nos designa.
                                              
               
Conhecendo a produção do café do jacu, leia:
Caso queira se divertir com o café do jacu, leia:

Um comentário:

  1. Parabéns minha amiga, pelo texto produzido. Tiro para mim suas palavras. Acrescento: Estou ainda avaliando o curso, do qual, tiro POUQUÍSSIMOS pontos positivos. Os negativos sim, são exageradose pioram a cada dia. A imagem da instituição está em jogo, pelo menos na minha humilde avaliação. Para mim, basta de grosseria, falta de didática e enrolação, além da pouca prática da qual o curso se intitula "tecnológico". A continuar assim, breve vai contar com menos um. Saudações.

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